Esse tipo de vida não é?
Esse tipo de vida eu já tive, aquele que você é pequeno e as pessoas duvidam se você vai comer o pote todo de sorvete e se vai rir ou passar mal depois, o tipo de vida que as pessoas enquanto pequenas acham incrível e as que a cercam dão motivos para que elas achem mesmo, que te fazem achar que é quase impossível, você, VOCÊ enquanto pequeno, fazer tal coisa e que quando faz acha maravilhoso e se sente arrebentando por ter feito, certo?
Certo é algo conversável. Vamos lá...
As vezes eu gosto de sentir frio, isso é certo? "Não", sua mãe é a primeira a dizer, "você vai ficar resfriado! Anda, vai colocar uma blusa!"
Mas sentir frio é muito mais que uma blusa ou um resfriado. Sentir frio é, simplesmente, sentir frio!
Sentir o vento e se arrepiar com ele, eu gosto das pessoas que se arrepiam, arrepiar é uma das coisas mais engraçadas que se vê por ai, penso que arrepiar mexe mais com a cabeça do que espirrar, compreende?
Mas voltando naquele tipo de vida, não sei se é para ser assim não... Ontem eu estava tomando café em um lugar qualquer, lendo um livro qualquer, pensando em quem poderia me desafiar a tomar café ou o bule inteiro, e vi que ninguém.
Já reparei também que chega um tempo que as pessoas não querem que duvidem do que elas são capazes, nem nas pequenas e nem nas grandes coisas, reparei que elas gostam de ser capazes de tudo mesmo não sendo, e é bem desse jeito que elas gostam de ser que as fazem tão mesquinhas, elas não descobrem o quão idiotas podem ser, elas não riem disso.
Elas acabam com o sorvete, sorriem para os que estão perto e passam mal sozinhas depois, por vergonha de fracassar.
Eu quero dizer que fracassei, em qualquer ocasião receptiva a esse tipo de comentário, quero que me olhem com caras irritadas, que me xinguem e apontem seus dedos nervosos dizendo "Menina! Você tem que ser alguém na vida! E não é fracassando que se chegará em algum lugar agradável!
Naquele tempo que me desafiavam com o pote de sorvete e eu não conseguia, ninguém reclamava e dizia sobre ser alguém, na verdade ninguém me perguntou se eu queria ser alguém na vida com o passar dos anos, mas hoje sou obrigada a ser. Sou mesmo?
Continuei tomando sorvete e me desafiando a tomar tudo, com muito gosto, porque é doce e eu amo lamber os dedos depois, ou a tomar café ou o bule inteiro, amo o gosto disso.
Mas é só. Digo, só o gosto.