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quinta-feira

sobre um tempo sem escrever aqui

Acho que eu não sei mais escrever. Os vazios dentro de mim se tornaram tão profundos que não comportam palavras.
Tenho me percebido com medo, que a cada dia alimenta mais ainda o precipício que é viver aqui, desse jeito imaturo. 
Julgo estar com falência das múltiplas alegrias que vivem comigo, em um estado de secularização de um tempo que nem passou mas que independentemente disso, eu sinto. Acordo com falta, ando com peso, durmo sem fechar os olhos e por isso esqueço de piscar e quando durmo na minha cama não descanso. 
A rotina mudou, mas não sei se é o caso de resquícios de um certo sentir-se bem, equivoco no que me mostro, se, como sempre, não tenho vontade de conversar com ninguém. Depois de tudo que já passou, ainda não sei andar sem levar o mundo nas costas.

2014

Nada muda. Não é novidade nenhuma dizer que nada muda. O ano pode ser outro mas tudo ainda se encontra no mesmo lugar, toda a parte palpável continua a mesma. As casas, os carros na rua, os cães latindo pros fogos de artifício, pessoas festejando, tudo igual.
Mas a esperança é revigorada em uma espécie de onda radioativa, atingindo a todos. As ideias fluem e os pensamentos mais encantadores criando sonhos e imaginando realizações sobem à cabeça, todos para se concretizar em 365 dias, afinal, puxa.. É muito tempo que temos pela frente. E de uma hora para outra a vontade de fazer tudo que planejamos joga a adrenalina pra cima e são tantas cores, tanta gente, tanta música, tantas conversas, e nesse movimento todo. As. 23. Horas. 59. Minutos. e. 55. Segundos. Tudo. Para.
Até o coração parece parar. Uma contagem regressiva de 5 segundos começa e num estalar de dedos o ano vira. Muda um simples número.
A Terra completou uma volta inteira em torno do Sol. E está prestes a começar tudo de novo.
Pena que o que imaginamos é absurdamente distante da nossa realidade e logo que todas as cores se tornam pálidas e todos os pisca-piscas são recolhidos, as pessoas voltam para suas rotinas de sempre: diárias, semanais, mensais, anuais.
Todas as promessas, talvez, se recolhem e  ficam congeladas em estado de sono profundo, hibernando. Talvez tomando doses de coragem por um conta-gotas. Talvez esperando um milagre. Talvez reprimidas. Talvez esperando ganhar na mega sena ou no jogo do bicho. Talvez esperando sentado os outros começarem a mudar, fazerem diferente e puxar o braço dele depois. São muitos 'talvez' para serem citados aqui...
E quer saber? Para! Pare de imaginar que o que imaginamos está a passos largos dos atos concretos. Porque isso depende da gente. Pense perto, por ideias alternativas, descrevendo passo a passo, colocando o alarme do iPhone para te lembrar todo dia que é dia de levantar e ir atrás, não importa como. E claro, primeiramente, fale que é possível. Aceite os desafios. E tente... O ano novo começa quando a gente tira a bunda da cadeira e faz algo para os dias serem diferentes.
Além de planejar os 365 dias que virão, começar o ano bem consigo mesmo é ótimo, e o mais importante é dizer que to feliz. Importante mesmo é saber que apesar de tudo eu estou muito, muito, feliz. Sem promessas absurdas ou desejos desprovidos de sanidade pro ano novo, apenas peço saúde. Vontade eu tenho, principalmente de viver.

terça-feira

estrelas, postes, afogada.

Eu ando precisando escrever, afogar alguns sentimentos dentro de outros. 
'Deixar que te percebam sem que te comparem.'
Ando vivendo aflita, arrancando cabelos, conhecendo vírgulas. Com um sentimento de auto destruição aflorado para alguns campos de conhecimentos baratos, desconstruindo progressos e humanos. Mastigando-os.  
Deixando canecas pelos cantos, transpirando cafeína. 
Numa bolha que nem eu me encaixo sem sossego, nas insônias mais demoradas, quando pisca-piscas te enlouquecem e o que passa pela cabeça numa noite nublada é apenas que 'na falta das estrelas no céu o poste serve, não só pela distância prolongada, mas pelo brilho intenso que provoca.'
Talvez respirar seja realmente agressivo e contar o passar do tempo pelas batidas de um coração descompassadamente impossível.
Talvez o homem velho respire melhor, pelo desgaste já causado, assim, pelo costume; e seu coração bata menos pela vida passada, por tudo não alcançado e que teve que aprender a esperar, sem nem ao menos querer.
Por tanto rir ou chorar, por sentir ou sei lá, pelo passar.

domingo

Sobre garrafas perdidas

Voltei pra casa, abri a porta mas, juro, não entrei. Não totalmente.
Pelo caminho perdi alguns momentos, ganhei outros. Rasguei pequenas insuficiências, coisas que não fariam falta de um jeito ou de outro. Não remendei nada não, mas costurei algumas coisas, é. Costurei em mim e hoje minha sombra não é só minha, meu olhar não é só meu.
É difícil falar sobre o que nos transforma a essa altura da vida, das pessoas que passam e levam ou trazem.
Perdi vida, um certo desassossego ritmado.
Ganhei memória, e quando me pego lembrando sorrio por saber que o melhor, com certeza, não passou desapercebido.

quinta-feira

serve de nada

ele acreditava no tempo
acreditava no momento
na hora marcada
no instante
até sumir
e passar a não contar nem os dias.
deixava o tempo.
alguma simpatia ainda tinha com o momento, ainda ria quando dava.
e no instante oportuno
sumiu.

sexta-feira

Mas é só. Digo, só o gosto.

Esse tipo de vida não é?
Esse tipo de vida eu já tive, aquele que você é pequeno e as pessoas duvidam se você vai comer o pote todo de sorvete e se vai rir ou passar mal depois, o tipo de vida que as pessoas enquanto pequenas acham incrível e as que a cercam dão motivos para que elas achem mesmo, que te fazem achar que é quase impossível, você, VOCÊ enquanto pequeno, fazer tal coisa e que quando faz acha maravilhoso e se sente arrebentando por ter feito, certo?
Certo é algo conversável. Vamos lá...
As vezes eu gosto de sentir frio, isso é certo? "Não", sua mãe é a primeira a dizer, "você vai ficar resfriado! Anda, vai colocar uma blusa!"
Mas sentir frio é muito mais que uma blusa ou um resfriado. Sentir frio é, simplesmente, sentir frio!
Sentir o vento e se arrepiar com ele, eu gosto das pessoas que se arrepiam, arrepiar é uma das coisas mais engraçadas que se vê por ai, penso que arrepiar mexe mais com a cabeça do que espirrar, compreende?
Mas voltando naquele tipo de vida, não sei se é para ser assim não... Ontem eu estava tomando café em um lugar qualquer, lendo um livro qualquer, pensando em quem poderia me desafiar a tomar café ou o bule inteiro, e vi que ninguém.
Já reparei também que chega um tempo que as pessoas não querem que duvidem do que elas são capazes, nem nas pequenas e nem nas grandes coisas, reparei que elas gostam de ser capazes de tudo mesmo não sendo, e é bem desse jeito que elas gostam de ser que as fazem tão mesquinhas, elas não descobrem o quão idiotas podem ser, elas não riem disso.
Elas acabam com o sorvete, sorriem para os que estão perto e passam mal sozinhas depois, por vergonha de fracassar.
Eu quero dizer que fracassei, em qualquer ocasião receptiva a esse tipo de comentário, quero que me olhem com caras irritadas, que me xinguem e apontem seus dedos nervosos dizendo "Menina! Você tem que ser alguém na vida! E não é fracassando que se chegará em algum lugar agradável!
Naquele tempo que me desafiavam com o pote de sorvete e eu não conseguia, ninguém reclamava e dizia sobre ser alguém, na verdade ninguém me perguntou se eu queria ser alguém na vida com o passar dos anos, mas hoje sou obrigada a ser. Sou mesmo?
Continuei tomando sorvete e me desafiando a tomar tudo, com muito gosto, porque é doce e eu amo lamber os dedos depois, ou a tomar café ou o bule inteiro, amo o gosto disso.
Mas é só. Digo, só o gosto.

quinta-feira

Crohn

Bom, preciso dar uma desabafada, e é, usarei mais uma vez o meu blog  C:
       'vai pra terapia pri!' 'sim galera, eu vou, mas por esses dias minha psicóloga está viajando, não terei ela por algumas semanas, portanto me aguentem!'
Estava procurando algumas informações sobre a Humira, injeção que eu tomo toda semana, e acabei por achar alguns sites que as pessoas compartilham sobre suas experiências,
calma, pra quem não sabe eu tenho crohn, doença auto imune que na maioria das vezes ataca o intestino, causando muitas complicações, é um pouco rara mas, hoje em dia, pelo ritmo de vida corrido, tem aparecido cada vez mais pessoas com isso. Os sintomas são variados, é muito difícil o diagnóstico, é complicado de lidar e sabe, não tenho muita paciência para falar sobre as condições não, foram/são anos de convivência com o crohn e só quem ta vivendo isso sabe como realmente é. Onde eu quero chegar é que, fico me perguntando... Os tratamentos são vários, muito paliativos, depende muito do estado de cada um para dizer o que vai acontecer ou como vai acontecer, crohn não tem receita, suspeito dizer que nunca terá. Me incomodo em ver e ler sobre o que tem na internet, muitas coisas não valem a pena nem um pouco, elas te assustam e fazem parecer maior do que realmente é. Não que compartilhar suas vitórias ou sintomas seja ruim, não é esse o ponto que estou falando, só quero que fique aqui meu depoimento de que o mais importante é que passa. Demora? Sim, demora mas é possível viver bem e ter o crohn controlado.
Dói? Sim, dói.
E as recaídas? São muitas? Sim! São! As vezes você acha que não volta não, que ta ficando tudo muito estranho, mas volta.
E os remédios? Fortes, que te fazem ter vontade de largar tudo, porque no começo, com remédio ou sem remédio você sente dor do mesmo jeito.
A quanto tempo você lida com isso? a exatamente uns 11 anos, e ó, só agora que vejo melhoras e estou mais animada com tudo.
Desanimou em algum momento? Não. A vontade de viver sempre persistiu. Por isso não via as coisas na internet, porque eu sabia que ficar olhando e morrendo de medo não ajuda em nada.
É isso gente, se tem alguém que quer compartilhar suas experiências com o crohn, SAIBA o que compartilhar, porque as pessoas querem ler algo para se sentir melhor não pra ficarem piores, já chega os sites de medicina por ai.

Compartilhe esse tipo de notícia, porque é desse tipo que deixa os outros felizes C:

domingo

estado de esgotamento

a vontade de compartilhar persistia,
os efeitos das doses, sentia todos no sangue, nos ossos.
sabe como viver driblando muitas vidas
consumindo cafeína.
"o que está acontecendo?"
se entupindo de torpor.

quinta-feira

do que precisamos ou do tempo

As vezes o tempo que a gente diz ser o bastante não é o bastante para fazer a gente perceber o que precisa, dois, dez anos, um pouco mais que agora... Ninguém sabe do que precisa até encontrar e se permitir deixar sentir que é aquilo, que é assim e por ser assim a gente quer.
As pessoas devem impulsionar, por mais que para isso elas precisem de outra para ser suporte, pra dar aquilo que pode e para dizer também, ouvir de gente que gosta da gente que somos importante, é perturbantemente bom. Acompanhar por carinho sai caro (mas existe), talvez saia caro mesmo, mas não tanto quanto caminhar sozinho, isso sim dói, dói demais andar sozinho, se ver sozinho, sentir-se sozinho, por isso aproveite se isso vier de graça, quando a oportunidade de ser especial para alguém é tão rara hoje em dia aproveite para se sentir assim, aprenda outros meios prováveis de ser, veja que não mudar ou arriscar se perde por deixar de viver, se deixa passar as prováveis marcas que são necessárias para se ter o melhor, para se fazer o melhor.
A vida te decepciona, é muito verdade, todos nós sabemos, mas mais verdade do que a decepção, é ver a vontade cumprida, o sorriso ou a lágrima de satisfação,
o que te satisfaz?
Satisfazer quando ser zero deixa um buraco e o conveniente ou o simples te puxa pra baixo.
Pra baixo só quem morre conhece, e acho que estamos muito vivos, receptivos ao que faz barulho e atormenta,
satisfaz a procura aquele que acha, satisfaz o grito aquele que grita, mais que o suficiente é o bem estar, é a sensação de ter tentado, de nenhum arrependimento.
Alguns tipos de pessoas, uma vez ou outra, se encontram, e do jeito que elas se entendem é pra ser, você sabe que vai estar errado se não deixar, de alguma forma, de qualquer forma que seja, de perto, de longe, de cabeça pra baixo, interferir de um jeito bom, surpreendente.
 É o tipo de coisa que causa conflito, que a cabeça não estará de acordo nunca, inexplicável, que mesmo assim você quer. E sou eu.


'cause i don't have a clue anymore
maybe we could dance,
together,
together,
together...